8 de janeiro de 2023: o dia que não acabou…

O 8 de janeiro não foi apenas um ataque às sedes dos Três Poderes. Foi o marco visível de uma escalada golpista que ainda hoje ameaça a democracia brasileira. Democracia e Estado de Direito são inseparáveis: quando as leis são respeitadas, as instituições funcionam com autonomia e os poderes se equilibram, a democracia respira. Não se pede perfeição, mas legitimidade, como ensinou a ministra Cármen Lúcia no início do seu voto no julgamento da trama de golpe de Estado. Imperfeições nos sistemas e nas instituições democráticas não autorizam retrocessos autoritários, mas exigem reformas e lutas constantes por aperfeiçoamento.

 O curso de uma escalada autoritária que segue viva

O que ocorreu em janeiro de 2023 não foi improviso. A trama articulada por Jair Bolsonaro, seus aliados e apoiadores buscou descredibilizar o processo eleitoral desde muito antes do pleito, espalhando fake news, questionando sem provas a integridade das urnas eletrônicas e atacando a Justiça Eleitoral. A estratégia incluiu cooptação de autoridades, mobilização de financiadores, incentivo a acampamentos golpistas e, sobretudo, a tentativa de manipular as Forças Armadas para, pela força, implantar novamente um regime de exceção no Brasil.

 O julgamento dos golpistas não está eliminando a ameaça. A extrema-direita brasileira segue mobilizada, agora com apoio explícito de Donald Trump e de seus colaboradores em cargos estratégicos nos Estados Unidos. A aliança entre Trump e Bolsonaro é mais que afinidade ideológica: representa a decadência de democracias que permitem o uso de instituições em nome de interesses pessoais e extremistas. Fake news globais, financiamento transnacional e a manipulação coordenada das redes sociais mostram que a luta contra o autoritarismo não é apenas nacional.

 

As tarifas promovidas ideologicamente por Trump contra o Brasil não produziram os efeitos esperados. O país seguiu crescendo, diversificando suas relações internacionais e mostrando que não precisa se curvar a caprichos nem a chantagens externas. Mas agora o nível de ameaça se eleva: já se fala, inclusive, em uso de poder militar. Trata-se de uma escalada perigosa que revela o desprezo do governo dos EUA e de extremistas brasileiros pelas vias diplomáticas e pela soberania nacional.

 

Até tu, Brutus (Ministro Fux)?

 

Esse risco não poupa sequer o Judiciário. O voto do ministro Luiz Fux, ao absolver Bolsonaro de todas as acusações, abriu fissuras preocupantes no julgamento. A decisão relativizou a gravidade da trama golpista e fragilizou a unidade institucional do Supremo Tribunal Federal em defesa da democracia, abrindo brechas para questionamentos da autoridade do Corte.

 

A contradição a condenação do Mauro Cid e Walter Braga Netto, o gesto de absolver Bolsonaro ecoa como sinal contraditório diante daquilo que deveria ser um compromisso inegociável: proteger o Estado de Direito.

 

A responsabilidade histórica é coletiva

 

A História está em movimento. Diante disso, uma pergunta se impõe: você, que apoia Bolsonaro; você, que é político de direita e escorregou para o extremismo — está preparado para pagar o preço histórico caso essa ameaça se concretize? Quando a História cobrar, pode ser tarde para considerações e explicações para escamotear a responsabilidade pessoal.

 

A responsabilidade pela democracia é coletiva. Cabe a cada um de nós decidir se estará do lado da História que defende a liberdade, a soberania e o Estado de Direito, ou se compactuará com o autoritarismo que insiste em rondar o Brasil.

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Entre força e fragilidade: o julgamento da trama golpista e o futuro da democracia