Como enfrentar a corrupção sistêmica: exemplo da Suécia

4/6/2022

 Faltam 120 dias para 2/10. Hoje o tema é a mudança que houve na Suécia na metade do século XIX. Tem poucos países no mundo que, ao falar deles, nos vêm a ideia de lugares meio mágicos em que serviços públicos funcionam, violência é muito pequena, as pessoas têm razões para confiar umas nas outras e a sensação é de corrupção e fraudes bem controladas. Ainda que nem tudo seja exatamente assim, a Suécia é um desses países (e toda a Escandinávia, na verdade). Mas nem sempre foi assim.

 Segundo Bo Rothstein - cientista político sueco que dirige o Instituto de Pesquisa em Gotemburgo – quem chegasse na Suécia até 1850 ficaria impressionado com dois fenômenos: 1) o entusiasmo das pessoas com a ideia de democracia; e 2) com a nível de corrupção em todos os setores, governo, mercado, emprego, saúde e até mesmo nos sistemas educacionais. Por exemplo, nas universidades, os diplomas eram concedidos sem critérios objetivos de verificação de conhecimento, mas de acordo com a capacidade de pagamento dos alunos.

 O que fizeram? Em pouco mais de 25 anos, os registros nos livros e em documentos oficiais mostram que a sociedade sueca conseguiu fazer uma mudança fantástica: sustentou o apreço pela democracia e superou as regras do jogo desleais que existiam entre eles.

 E como fizeram isso? Primeiro, compreenderam que a Suécia de 1850 estava sofrendo as consequências das relações desleais históricas entre pessoas e grupos sociais. O país tinha perdido a Finlândia para a Rússia em 1809, ao perder uma Guerra. Em crises econômicas sucessivas, também estava vendo seus cidadãos migrarem para outros países para sobreviverem. Rothstein afirma que o que ficou claro para todos é que a própria existência do estado da Suécia estava em risco. Pode-se dizer que o gatilho para a mudança na Suécia foi o risco da desintegração do Estado.  

 Quem propôs as mudanças? Não foi um grupo específico, mas sim todos juntos: as instituições, o parlamento, o mercado e a sociedade civil. Houve um entendimento amplo de que, ou conseguiam mudar ou estariam perdidos. O nome que Rothstein propôs para o que aconteceu foi mudança institucional endógena para o problema de corrupção sistêmica.

Para mim, isso representa um movimento firme e cooperativo mais ou menos no seguinte sentido: “1)vamos combinar que agora é para valer; 2) o pacto é de observação da lei que juntos vamos definir; 3) o nosso compromisso é gerar um mínimo de bem comum, valendo para todos; 4) a mudança será imediata e terá que acontecer ao mesmo tempo em todos os setores.”

 Parece simples, mas não é. É muito difícil gerar essa força que tira o país da inércia lodosa do particularismo (ou personalismo).

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